29.1.08

em branco...


Depois de muitas folhas de papel amassado, de muitas frases começadas e um turbilhão de ideias e palavras na ponta dos dedos... fica o silêncio.
Parece a forma mais óbvia de dizer. Fica o vazio. E diz tudo.

28.1.08

ainda os fantasmas...


Porque te escolho, neste sussurro sem retorno? Porque te quero no meu sono se iluminaste sobretudo o que não fui? Morreste-me antes que eu morresse - e não consigo morrer sem ti. Nunca consegui. Todos os dias da minha vida estive contigo - como se todas as amizades anteriores fossem só o caminho para chegar a ti,como se todas as amizades posteriores fossem apenas a ausência de ti. Mais delicadas, mais ritmadas, mais claras - menos tu.

in Fazes-me Falta, Inês Pedrosa

quem me leva os meus fantasmas?


porque eu vivo no porto...
porque eu vejo mendigos todos os dias...
porque eu vejo homens e mulheres com idade para serem meus avós a comer no contentor do lixo...
porque às vezes tenho de ter cuidado para não atropelar alguém que dorme na rua quando estou a estacionar o carro...
porque me pedem para pagar um pão ou copo de leite...
porque existem...
porque eu adoro o pedro abrunhosa...
e porque esta música nos faz pensar no pedaço mais pobre de nós próprios.

http://www.youtube.com/watch?v=sqK7Ys155j4

Aquele era o tempo
Em que as mãos se fechavam
E nas noites brilhantes as palavras voavam,
Eu via que o céu me nascia dos dedos
E a Ursa Maior eram ferros acesos.
Marinheiros perdidos em portos distantes,
Em bares escondidos,
Em sonhos gigantes.
E a cidade vazia,
Da cor do asfalto,
E alguém me pedia que cantasse mais alto.

Quem me leva os meus fantasmas,
Quem me salva desta espada,
Quem me diz onde é a estrada?

Aquele era o tempo
Em que as sombras se abriam,
Em que homens negavam
O que outros erguiam.
E eu bebia da vida em goles pequenos,
Tropeçava no riso, abraçava venenos.
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala
Nem a falha no muro.
E alguém me gritava
Com voz de profeta
Que o caminho se faz
Entre o alvo e a seta.

Quem leva os meus fantasmas,
Quem me salva desta espada,
Quem me diz onde é a estrada?

De que serve ter o mapa
Se o fim está traçado,
De que serve a terra à vista
Se o barco está parado,
De que serve ter a chave
Se a porta está aberta,
De que servem as palavras
Se a casa está deserta?

Quem me leva os meus fantasmas,
Quem me salva desta espada,
Quem me diz onde é a estrada?

Não quis dizer-te que não haveria regresso, para poder poupar-te a dor da saudade. Parti, sorrindo numa madrugada de orvalho doce, para guardar o cheiro das horas que escrevemos no silêncio. Éramos duas crianças que julgavam que o amanhã era de papel. Éramos dois sonhadores que queriam guardar memórias entre papéis de rebuçado, para saborear mais tarde…no calor de uma lareira adormecida…
Arrastei os passos, embora soubesse que haveria de chegar à encruzilhada do caminho onde a balança dos afectos pesa mais do que a razão…mas segui, pensando que há ratoeiras nas palavras que trocamos ao deixar o que não queremos perder.
E cheguei àquela parte do caminho em que já não sabemos quem somos, de tanto que queremos mudar ou fugir do que não queremos ver…
E lá estavas tu: no ar, nas paredes, nas minhas mãos e nos meus olhos…tu e as tuas memórias, para me atormentar. Tu e as tuas histórias, para me lembrar…que o amanhã pode ser tarde demais…

a musica como cenario, um livro como companhia e algo para escrever...