margem
De pés descalços e pele tisnada pelo sol, ele percorreu cada grão de areia com um punhado de ideias na cabeça e as mãos cheias de coisas nenhuma.
Fitou a linha do horizonte - tão plana quanto os últimos dias - e viu ao longe um barco pesqueiro que lhe pareceu ser o porto de abrigo mais seguro naquele temporal de emoções que se avolumavam à velocidade com que as ondas apartavam na orla daquela praia deserta.
Num laivo de fantasia, de desespero, de esperança... percorreu o mar com o olhar em busca de uma mensagem - mesmo que a garrafa já estivesse fora de moda -, de um qualquer sinal do caminho a seguir, de uma pequena orientação sem bússola, sem paradeiro, mas com um fim...
Era um náufrago na sua própria vida. Um passageiro perdido em marés de gente que partiu e não voltou. Um marinheiro sem cais. Simplesmente um homem.