27.5.08

deserto

No mais profundo de ti, existe um lago pantanoso do qual não te consegues salvar e onde afundas aqueles que te rodeiam, sem saberem ao que vão.
Nessas profundezas, dorme um menino que nunca aprendeu a caminhar. Confunde os raios de sol com a guerra das estrelas, mistura o amor com os ódios alheios e chora lágrimas de fraqueza, mesmo quando apenas profere uma palavra.
Nesse lugar, os dias não são dias... são campos de batalha. As noites não são noites...são palcos de corpos que libertam frustrações.
Se tivesses nascido mulher, não me surpreenderia se te soubesse na mais sombria esquina a vender o corpo como forma de fazer algo de uma vida que nunca mereceste.
Mas se te tivesses feito homem, acredito que hoje não estaria a pensar-te como um mero grão de areia num deserto onde só tu existes e onde já ninguém quer ir.

19.5.08

adolescência

Tenho imensa pena das pessoas que não conseguem ser nada sozinhas. Lamento o mimetismo desenfreado daqueles que querem ser qualquer coisa, desde que não sejam esquecidos no seu minimalismo e insignificância.
As tuas palavras podem ser imensamente profundas e bem intencionadas. Podem até ser verdadeiras, mas não passam de um reflexo pouco natural dos outros em ti. Não passam da constatação de que sempre precisaste de ter um suporte para chegares a qualquer lado, para seres a cópia que hoje és daquilo que nunca chegarás a ser.
Olha-te ao espelho uma vez que seja e lembra-te que eu poderei não estar sempre por perto para te mostrar qual o caminho seguir. E nessa altura? Como vais fazer?

8.5.08

sem título

Olhei-te pela última vez numa tarde de Maio. Fitavas o vazio com tranquilidade e com a certeza de um desfecho que só tu adivinhavas. Estava um sol ameno e soprava uma brisa fraquinha que apaziguava qualquer temor. Disseste-me aquilo que sempre soube que dirias e guardo na pele o calor terno da tua mão na minha, as palavras de ânimo e o carinho preocupado a que me habituaste.
O sabor do café já não é o mesmo. Nem mesmo o cheiro se assemelha com aquelas horas em que religiosamente se estendiam as chávenas na mesa da cozinha.
Já nada do que está faz lembrar o que me ensinaste. Nem as coisas, nem os momentos, nem os gestos dos que ficaram.
Sinto tanto a tua falta…

5.5.08

a saudade é um estado de dor que hiberna...

É mentira. O tempo não sara todas as feridas.
O tempo não cura a falta imensa que me fazes. Apenas aumenta esta saudade que me aperta sempre que quero pegar-te na mão e não posso.
Às vezes faço de conta que está tudo bem e que vais estar à minha espera quando eu chegar, como sempre, com aquele abraço terno que só tu sabias... com as palavras certas na beirinha da cama, com as horas de conversa pela noite dentro, à lareira...
Por vezes, ainda acredito que este vazio é só um sonho mau, daqueles em que tu me "salvavas" quando eu era pequenina e que vou ouvir as tuas gargalhadas quando chegar a casa.
A saudade é um estado de dor que hiberna...mas tu serás sempre a pessoa mais importante da minha vida.